31/07/2025

Quase 60% das exportações de produtos brasileiros para os EUA serão alvo de tarifas

Por: Maeli Prado Natália Santos e Ricardo Della Coletta
Fonte: Folha de S. Paulo
Quase 60% do valor importado pelos Estados Unidos em produtos do Brasil
ficou de fora da lista de exceções do governo americano e será taxado em 50%
daqui uma semana, mostra levantamento feito pela Folha.
O número foi estimado com base no comércio bilateral dos dois países em 2024
a partir de dados da plataforma Dataweb, da Comissão de Comércio
Internacional dos Estados Unidos.
No ano passado, as compras americanas de produtos brasileiros que entraram
na lista de isentos da sobretaxa americana somaram US$ 18,4 bilhões, o
equivalente a 43% do total, enquanto que os produtos não isentos
representaram 57%.
Sem levar em conta o valor, e analisando cada item que o Brasil vende aos EUA,
a conclusão é a de que 10% dos produtos que foram comprados em 2024 estão
na lista de isenção.
Os dados mostram ainda que, dos 15 itens que lideram as importações
americanas do Brasil, 10 ficaram isentos.
A BMJ Consultoria, especializada em comércio exterior, tem uma estimativa
parecida, de que a lista de exceções ao tarifaço de Donald Trump abarca cerca
de 40% das exportações brasileiras aos EUA. A Amcham Brasil (Câmara
Americana de Comércio para o Brasil) calcula um número similar: para a
instituição, a lista de exceções abrange 43,4% do total exportado pelo Brasil.
"A Amcham reforça que ainda há um impacto expressivo sobre setores
estratégicos da economia brasileira. Produtos que ficaram de fora da lista
continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade
de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor", afirma.
Nesta quarta (30), Trump, assinou um decreto que implementa uma tarifa
adicional de 40% sobre o Brasil, elevando o valor total da tarifa para 50%. As
taxas entrarão em vigor em sete dias, mas há uma lista de exceções que inclui
determinados alimentos, minérios e produtos de energia e aviação civil, entre
outros.
O impacto total das tarifas de Trump sobre o Brasil vai além do anúncio desta
quarta (30), uma vez que produtos importantes da pauta exportadora, como o
aço, já são alvo de sobretaxas setoriais, no caso de 50%. No ano passado, por
exemplo, o Brasil vendeu US$ 3,5 bilhões aos EUA em produtos semi-acabados
de ferro ou aço.
"Apesar de setores muito importantes terem sido excluídos da medida, temos
que lembrar que vários setores menores do Brasil, como é o caso de mangas,
[outras] frutas e sal, acabaram sendo afetados. E isso, infelizmente, impacta
muitas empresas pequenas do Brasil", afirma Welber Barral, conselheiro e
sócio-fundador da BMJ.
As tarifas de Trump haviam sido anunciadas por Trump no dia 9 de julho, e
são as maiores entre as anunciadas para países que exportam aos EUA.
A medida visa "lidar com as políticas, práticas e ações recentes do governo
brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança
nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos", diz o
comunicado sobre a assinatura do decreto, que cita o nome de Jair Bolsonaro
(PL) e diz que ele sofre perseguição do ministro Alexandre de Moraes, do STF
(Supremo Tribunal Federal).
Ainda nesta quarta, o governo Trump anunciou sanções financeiras contra
Moraes, num movimento que, para o governo Lula, reforça que a sobretaxa de
50% tem um forte componente político.